Sobre todas as angustias do mundo, a minha não é a maior, mas também não fica muito pra trás. Tudo que desperta minha tristeza, ultimamente vem que nem bomba nuclear, atinge tudo ao raio de 20 km.
Os meus sonhos eu tento deixar, cuidadosamente protegidos, num abrigo. Alguns ficam para trás, em meio a todo pavor e correria.
Injustamente, eu sempre me deparo com a minha grande companhia, aquela que me devora em poucos segundos e demora dias para me digerir, remói e comprime. E la dentro é frio, escuro e solitário, é como uma prisão, nada do que eu faça me tira rapidamente daquele lugar, sempre demora um pouco. Esse tempo passa, sempre passa, vezes deixando grandes cicatrizes e em outras não deixando nada, como se nem tivesse passado por tudo aquilo.
Com o tempo o sol volta a brilhar, tudo seca e algumas flores crescem. Corro, quase mais rápido que o vento, abro as portas do abrigo aonde antes escondia meus sonhos, e os retiro de lá. Até encontro alguns perdidos pelo caminho, e permito que alguns cresçam.
Reaprendo a sorrir, a deixar o olhar brilhar. De tijolo em tijolo reconstruo tudo o que aquela bomba maldita destruiu. E vou melhorando todos os dias, por meses, ou anos, talvez só por uns dias, ou melhor, até a bomba imprevista cair de novo, destruir, arrebatar, descontrolar. E mais tarde tudo melhorar e ficar bem. Sem saber quando e onde irei me deparar com os destroços das bombas que caem pelo mundo.
[Pietra Mariah]
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